Sexo antes do casamento


O sexo é um dos assuntos que o Cristianismo faz mais vista grossa: “eu finjo que acredito que você é virgem e você come quieto”.  O “sexo antes do casamento” é proibido com a seguinte lógica: “a bíblia é contra prostituição e fornicação”, “você corre um sério risco em ser vítima de AIDS” e “Paulo disse que é melhor casar do que se abrasar (ficar ardendo em desejo)”.

Essas são as desculpas mais utilizadas. O pobre do Paulo, ao dizer o óbvio, que “...quem é muito espoleta sexualmente, deve procurar alguém para apagar seu fogo e sossegar o facho, pois eu estou de boa, curtindo minha inapetência...” foi entendido como “é melhor casar logo no civil do que transar sem o consentimento do cartório (é melhor casar do que transar enquanto vocês ainda são namorados)” (saca a diferença?). Paulo não criou nenhuma angustiosa lei, ele apenas disso o óbvio “você não agüenta, então encontre alguém”. Paulo recomenda que você encontre alguém para satisfazer-se, por conseguinte, satisfazer alguém. Ao que me parece, nada conflitante, até o momento em que damos outro sentido...

Se lêssemos Paulo sem o encargo oneroso que dá uma interpretação angustiosa, não leríamos outra coisa. Mas com o santo encargo, lemos um simples versículo com a seguinte interpretação: “Não transe. Você pode namorar, pegar na mão e até beijar. Depois de alguns anos, vocês vão noivar, mantendo-se virgens da silva. Nada de sexo. Vocês se amam, mas sexo, só daqui há 4 anos quando sair o apartamento de vocês, e então o cartório e o pastor Beltrano vão casa-los e lhes darão alforria sexual. Todavia, se não agüentar a espera, casem agora e construa um puxadinho no meu quintal dos fundos...”.

O tabu surge quando o casamento deixa de ser considerado a união de pessoas que se amam a partir de quando os mesmos se percebem amantes, para validar-se através de um evento que serve para se afirmarem aos amigos e familiares, bem como realizar um pacto legal de compromissos perante a sociedade. É como o médico, que se apresenta apto para exercer a sua função, porém não a exerce enquanto não possui o CRM. O certificado para a prática sexual é expedido pelo cartório, autenticado pela igreja (ou vice-e-versa?), mediante o CRS (conselho regional do sexo).

Então toda e qualquer transa na fase pré-matrimonial é dada, pelo CRS, a alcunha de fornicação, adultério, imoralidade sexual e etecéteras. Eu entendo que todas essas alcunhas, podem ser encontradas em todos os seres humanos. A libido no olhar, que é laborada no pensamento, provocando desejos e até, finalmente, os aclamados atos imorais, estão em todos os seres humanos em combustão. Adultério ou fornicação estão mais para serem controlados do que evitados, posto que pensamentos libidinosos não respeitam amor e compromisso, apenas os mortos. Se há um ranking entre os seres humanos, é o de quem adultera menos até o que adultera mais. O teu simples soslaios em direção àquelas nádegas que obedecem a cadência concupiscente, fazendo-lhe lamber os lábios, é uma vocação de seu instinto e uma trava no teu olhar hipócrita. E os vídeos? E as revistas? E as conversas calientes nas redes sociais? E as safadinhas conversas no trabalho ou na faculdade?

O ato sexual vira mero objeto disponível ao pecador que adultera com sua própria esposa quando transa com ela sem amor ou quando transa pensando em outra pessoa para manter-se excitado. Parece-me que definir adultério ou fornicação baseando-se nos noivos ou namorados que transam ou no adolescente que se masturba ou no mr. Catra que tem várias esposas é a maior das hipocrisias a fim de não abranger as suas peculiares formas de adulterar.

Quem não é a mulher de João 8:7 que atire a primeira pedra. O discurso religioso deveria partir da ideia de que todos nós cometemos adultério. Seria um ótimo ponto de partida. Daí não trataríamos apenas o outro como adúltero, mas nos nivelaríamos com todos a fim de que um ajude o outro a ponderar-se. O problema não seria em transar com a namorada, visto que, neste caso, a única coisa que é adulterada é a insustentável interpretação vigente de imoralidade sexual. Além disso, todos nós somos imorais e só nos tornamos morais quando vestimos o capuz da hipocrisia. O que pratica sexo por sexo (“uma noite e nada mais”) é só mais um adúltero que assola este mundo.
Você que come com os olhos enquanto anda de mão dada com tua esposa, está na mesma situação que o garoto que está no cio. Tudo é uma questão de idade, comportamento e fase.

Ninguém se esquiva, na linguagem religiosa, de fornicar ou adulterar. Todos, a partir desta visão, são imorais e fazer uma péssima interpretação do que seja Graça, nunca irá conciliar as coisas. Sempre se esquivarão de certas perguntas ou darão respostas franzinas. “Pastor, eu não consigo parar de fornicar. Eu me masturbo, olho o corpo das irmãs e penso em sexo todos os dias”, “tente parar, se não conseguir, ore que um dia você consegue, pois sem santidade, ninguém verá a Deus” “o senhor conseguiu?” “cof, cof, cof, amém meu filho”.

Que nós, os adúlteros, aprendamos, ao menos, prezar e pesar quando assumirmos um compromisso relacional e que todos nós aprendamos que o amor sempre compensa mais que uma vida bandida da música de Chico Buarque “vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor”. Somos seres da mesma espécie. Isso indica que precisamos nos ajudar e nunca nos acusar, pois todos nós somos iguais. Um dia a gente melhora e nos tornamos um adúltero mais recatado e se tem algo que faz melhorar o nosso comportamento e refrear as volúpias dos desejos é o amor e o auto-conhecimento sob um parâmetro lúcido e honesto. Quer que seu filho ou filha se preserve ou pelo menos, seja ponderado(a)? Fale de amor, de relacionamento e seja um exemplo. Não fique inventando padrão impossível e alienígena que o fará dar de ombros a tudo isso. A melhor coisa é ensinar o essencial e o real. Desista do impossível e surreal, pois isso sempre existiu para forjar comportamentos incompatíveis com a nossa natureza, gerando doentes e hipócritas. O evangelho não trabalha com categorias doentias.

E para finalizar, admita: a bíblia não é contra o adultério. Será que você não entendeu que a bíblia é contra você e eu? Todos os parâmetros que ela apresenta servem para provar a nossa incapacidade de ser justificado por ela, porém, para quem ela aponta, habita a reconciliação de todas as coisas. Mas isso é assunto para outro texto...

Um comentário:

Anah disse...

Oi Moisés!
Então, comento sem trauma, porque não sou crente, do tipo com conhecimento de causa; explico: tive uma experiência muito forte há alguns anos que culminou com a minha “estreia no teísmo” , o que não faz de mim crente, cristã, nem sei-lá-mais-o-quê – se é que posso falar deste modo – veja bem: vivi minha vida, fiz o que quis e o que tive que fazer entre tantas coisas, inclusive sexo, não com muitas pessoas diferentes, mas muito sexo com as pessoas que eu escolhi, naquele esquema de “monogamia sucessiva” como os crentes cultos falam – exceto os abusos que sofri na infância e adolescência; me foderam, entende? Mas isso não tem nada a ver com sexo... Quem fode o outro quer poder, não quer prazer, nem amor, nem calor, nem se divertir, quer exercitar um jogo de poder, só isso – tudo isso para dizer que, o que aprendi vivendo assim é que sexo é uma parte pequena, porém densa, da vida da gente na medida em que não nos permite sermos os seres maravilhosinhos que gostaríamos de ser. Quem abre mão de valores antinaturais como negar, suprimir, adestrar, enfim valorar os próprios instintos – que é o que os ligados às religiões fazem - a pessoa quando SE ama, empiricamente – porque ninguém ensina –, vai construindo uma ética para relacionamentos íntimos que, necessariamente, passa pelo respeito e pelo amor ao outro, pois, é o amor a mim mesma que me move em sua direção [do outro], porque sexo é divertido, mas não é brincadeira. Fato: não há necessidade de se ter medo do sexo, mas, antes de uma educação sexual deveríamos falar em uma educação para o sexo de modo a privilegiar a relação e não o tesão e suas “consequências maléficas” que, este sim, é totalmente independente, natural, esperado, desejado e, as vezes incontrolável. Na dúvida: bate uma, que essa teoria sobre incubus e sucubus é engraçada e nada mais; se assim for o boto faz filho, o saci enrola as crinas dos cavalos e o Ed faz as coisas sumirem dentro de casa. Vão querer controlar assim no inferno!!! Até onde esses tarados gospel pensam que podem ir? Até onde as gentes envolvidas com esses movimentos vão permitir que eles vão? Em busca de santidade casamentos improváveis se fazem, perversões sexuais escabrosas acontecem nos escuros e depois vai tudo para a conta de zeus e g-zus que lhes dê força para suportar? Fora a mentirada que pode vir disso tudo aê siéquemefaçoentender. Agora, casamento é coisa para gente grande. Abraço.